No começo o choro era abafado, mas a medida que ia pegando ar criava vida e pousava nos ouvidos cansados de sua mãe. Ela havia passado a noite inteira à espreita, como se um olho permanecesse fechado e o outro aberto, preocupada com cada movimento do pequenino. De pequeno, não tinha nada. Havia nascido grande e robusto, mas a mãe aproveitava enquanto sua mãosinha ainda podia ser gentilmente abraçada pela palma de sua mão. Além disso, como o garoto puxara o pai, logo, logo estaria maior que ela, que já ia pensando em meios de paparicar sua cria do alto dos seus 1.60 metros de altura. Léo era a cópia de seu pai, expressivo como ele, com uma grande cabeleira, um sorrisão e a cara de sapeca mais precoce que já existiu, mas, ainda assim, continha a serenidade do olhar de sua mãe. O casal ainda não acreditava na mistura. Como pode dois se identificarem e se reconhecerem em um? O medo logo era aliviado pelo cheirinho de talco que o pequeno deixava no travesseiro da cama. Os frufrus, os braulhinos e os berros eram sempre bem vindos e vivenciados com toda intensidade, tanta que saiam atordoados, não só pelos berros, mas por todas as histórias que ouviam sobre filhos alheios. Concluíam: Filhos? Melhor não tê-los. Meleca dali, fraldas daqui, noites em claro, conta bancária às moscas, esposa atarefada, esposo preocupado. Mas se não o temos, como sabê-lo? Agora, a história que juntos escreviam tinha um delicioso desfecho, pra que pensar em uma vida sem as mamadeiras de bichinho, as colônias de bebê e as roupinhas azuis? No começo pensaram no impacto que essa vida traria, não teriam tempo para traçar os planos que haviam formado ainda jovens, mas perceberam que agora outros objetivos haviam sido estabelecidos, e tão bons quanto.
*Poema enjoadinho, Vinícius de Moraes.
Um abraço,
*Poema enjoadinho, Vinícius de Moraes.
Um abraço,
1 comentários:
Num sei o que está mais cuti-cuti: o texto ou a foto hahaha...
Bem leve e simbólico o texto Ju!! Apesar disso, você não me convenceu a querer ter filho... =P
Bjos!!
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