quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A garota invisível


Perdia-se em meio a tantos desejos. Um emprego, um teto, uma viagem, quem sabe alguém para dividir suas angústias. Mas quem se importava? Sabia que continuaria medíocre, com sonhos rasos e objetivos que não ultrapassavam as fotos das revistas. O que mais lhe incomodava era a invisibilidade. Continuaria a mesma garota, com o mesmo olhar, que nada representa. Era apenas mais uma, mais um número, mais uma despesa e mais uma pessoa em busca de algo melhor. Será que a profundidade de seus anseios continuariam invisíveis? Ela mesma havia escolhido seu desfecho, sem essência e sem cor. A barreira que a protegia do mundo era a mesma que a impedia de existir. Sabia que suas dúvidas e medos eram os mesmos de todos aqueles que a cercavam, mas permitia que eles a dominassem e com sua capa invisível trilhava seu caminho, sem decepções e frustrações, mostrando somente para si a grandeza de seus pensamentos.


Um abraço, 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Além do retrato

Começamos 2012 descartando 2011. Ficamos 6 dias nos despedindo de 359 dias que na maioria das vezes foram péssimos. Assim, nos desfazemos de alguns pensamentos, algumas amizades e iniciamos o novo ano com todo cuidado e zelo, que lá pelas tantas de março também é descartado. Todo esse despejo é reunido em álbuns que guardam momentos alegres, engraçados, vergonhosos e talvez dispensáveis. De vez em quando são lembrados e tem seu momento de glória nos álbuns virtuais, mas... um clique e a memória do que se foi desaparece. Semana passada estive com meus avós e em meio ao ócio das férias nos deliciamos com velhos álbuns de fotos. Fotos amassadas, amareladas com aquele cheiro de passado. Vimos o biso e a bisa, o tio que é a cara do sobrinho, meus avós aos dezoito anos, iniciando uma longa história. Em meio aquelas folhas estavam diferentes momentos, diferentes histórias, a memória de uma família, o seu legado. Como descartar tudo aquilo e ignorar o significado de cada retrato? As gerações se comunicam através desses vestígios de memória, que estão escondidos no fundo do armário. Não nos comunicamos somente por meio de palavras, sons, imagens, movimentos. Essa é a essência da fotografia. Em a Câmara Clara, o filósofo francês Roland Barthes vai além e procura na fotografia algo que é capaz de "tocá-lo" independente daquilo que seu olhar busca. Ele diz que "o órgão do Fotógrafo não é o olho (...), é o dedo: o que está ligado ao disparador da objetiva". Desse modo, a fotografia é uma metonímia, uma marca deixada pelo fotógrafo e que afeta o olhar de quem observa. Através daqueles retratos tocamos o diploma que meu avô orgulhosamente segurava e nos deslumbramos com a brisa do mar, sentida pela primeira vez por meu pai, ainda criança. Um novo ano começou, mas as memórias daqueles 359 dias e de muitos outros ainda tocam e ainda são lembrados. Saudosismo à parte, mas são nesses momentos que entendo velhos hábitos, algumas manias e decisões. Olhando o passado entendemos o presente e projetamos um novo futuro.


Um abraço,