quarta-feira, 28 de setembro de 2011

À Francesa

O futuro da humanidade, de uma nação e de um indivíduo é determinado por uma série de acontecimentos que já se foram e acompanhados por um presente feito por objetivos. Esses objetivos diferenciam-se de geração a geração e poucos permanecem ao longo da história. É o caso da "nova era" prometida pela Revolução Francesa*, baseada nos pilares da igualdade, fraternidade e liberdade. A igualdade foi retomada pela Proclamação da República brasileira, por exemplo, há 120 anos, permitindo a soberania do povo; a fraternidade foi revivida pela queda do muro de Berlim, há 20 anos, marcando o fim de dois blocos antagônicos; e a liberdade, por sua pluri-significância, seja metafísica, física ou filosófica, sempre estará presente no homem e na sua história. No entanto, esses mesmos preceitos revolucionários, que permaneceram durante a história, inspiradores de tantas utopias, acabaram reinterpretados e recontextualizados. Mesmo após a instalação da democracia no país, evidencia-se a manipulação de parte da sociedade; apesar do incentivo a fraternidade, multiplica-se o número de movimentos separatistas e intervenções militares; e a liberdade é constantemente cercada por dogmas e padrões sociais inalcançáveis. Ideais originados pelos renascentistas, iluministas e revolucionários se encontram à merce de releituras, que possibilitam sua adaptação a novas necessidades e diferentes pressões. Conceitos históricos podem ser facilmente (e erroneamente) utilizados  por governos autoritários, por exemplo, que partem de metas coerentes e idealizadas e resultam na total supressão das vontades da população. Na medida em que conceitos históricos se perdem em uma sociedade imediatista e em tais releituras, ideais que deveriam ser passados ao longo da história são ignorados, anulando-se a relação natural entre passado, presente e futuro, que permite que erros sejam aprendidos e perdas sejam lembradas.  


*Meu mais novo affaire, talvez pelo fato de daqui a pouco estar frente a frente a Bastille (texto escrito em 2009).


Um abraço,

sábado, 24 de setembro de 2011

A gente fica de olho

Jogue a primeira pedra quem nunca assistiu algum reality show. A mais erudita das pessoas, ao passar pela televisão, não resisti em dar uma espiada no barraco armado na telinha.  Generalizações à parte, a verdade é que as pessoas assistem esse tipo de programa e não percebem o que realmente as motiva a assisti-lo: vivemos em um mundo cão, onde todos são obrigados a aderir a lei do mais forte e desde a infância buscar ser o melhor, mais resistente e inteligente. Eu mesma estudei em um colégio que incentivava os alunos a competirem entre si e a buscarem a qualquer custo o melhor resultado. Assim, entramos no mercado de trabalho dispostos e preparados a competir com outros profissionais. O tipo de pressão que esse ciclo gera, geralmente causa no indivíduo estresse, sentimento de não - realização (quando se é o mais fraco) e muitas vezes um total vazio que o leva a dizer: o que estou fazendo aqui? O que isso tem a ver com o Big Brother e a Fazenda? Esses tipos de programas funcionam como escape desse ciclo vicioso. A pessoa de casa escolhe seu representante e acompanha toda sua trajetória, suas escolhas, suas estratégias, torcendo para que massacre os outros participantes do programa. Transfere-se a competição diária do indivíduo para o reality show e para o participante escolhido como preferido e é ainda mais gostoso quando ele vence todos os seus adversários depois de 8 horas pendurado em um cabo de aço. A pressão de competir a todo momento não se restringe a classe, etnia, cultura, enfim, atinge toda a sociedade. Generalizar o público e acusá-lo de acultural, superficial e medíocre é simplesmente cair no senso comum. Discutir as motivações das ações humanas e desvendar os seus por ques é muito mais pedagógico. Não estou justificando a qualidade ou o intuito dos reality shows, mas quando vistos sob essa ótica, faz sentido a sua popularidade e as inúmeras edições que conquistam.


Um abraço,

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Hasta la vista, baby!

O tempo voou e daqui a catorze dias quem voará serei eu! No início de outubro viajarei pela Europa junto com minha prima e duas amigas. Mochileiras de primeira viagem, discutimos muito sobre todos os detalhes, mas como todo bom brasileiro, deixamos para acertar as coisas duas semanas antes do tão esperado dia. Passaremos por Itália, França e Espanha, em uma maratona de quinze dias. A ansiedade é imensa, mas, "fat" como sou, me acalmo só de pensar nas delícias da culinária desses países! Sem dúvida postarei por aqui refeições que deixarão muita água na boca de quem fica, isso se minha indigestão de tanto comer macarrão permitir! O post é  homenagem a viagem e a todas as novas experiências que estão por vir.



TCHAU, MÃE!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Texto Enjoadinho


No começo o choro era abafado, mas a medida que ia pegando ar criava vida e pousava nos ouvidos cansados de sua mãe. Ela havia passado a noite inteira à espreita, como se um olho permanecesse fechado e o outro aberto, preocupada com cada movimento do pequenino. De pequeno, não tinha nada. Havia nascido grande e robusto, mas a mãe aproveitava enquanto sua mãosinha ainda podia ser gentilmente abraçada pela palma de sua mão. Além disso, como o garoto puxara o pai, logo, logo estaria maior que ela, que já ia pensando em meios de paparicar sua cria do alto dos seus 1.60 metros de altura. Léo era a cópia de seu pai, expressivo como ele, com uma grande cabeleira, um sorrisão e a cara de sapeca mais precoce que já existiu, mas, ainda assim, continha a serenidade do olhar de sua mãe. O casal ainda não acreditava na mistura. Como pode dois se identificarem e se reconhecerem em um? O medo logo era aliviado pelo cheirinho de talco que o pequeno deixava no travesseiro da cama. Os frufrus, os braulhinos e os berros eram sempre bem vindos e vivenciados com toda intensidade, tanta que saiam atordoados, não só pelos berros, mas por todas as histórias que ouviam sobre filhos alheios. Concluíam: Filhos? Melhor não tê-los. Meleca dali, fraldas daqui, noites em claro, conta bancária às moscas, esposa atarefada, esposo preocupado. Mas se não o temos, como sabê-lo? Agora, a história que juntos escreviam tinha um delicioso desfecho, pra que pensar em uma vida sem as mamadeiras de bichinho, as colônias de bebê e as roupinhas azuis? No começo pensaram no impacto que essa vida traria, não teriam tempo para traçar os planos que haviam formado ainda jovens, mas perceberam que agora outros objetivos haviam sido estabelecidos, e tão bons quanto.


*Poema enjoadinho, Vinícius de Moraes.


Um abraço,