O amor é um dos sentimentos mais antigos da humanidade. No século XVIII, Álvares de Azevedo já evocava "Sofrer e amar essa dor..."¹. Mas, afinal, o que é amor? Atualmente, confunde-se amor e desejo, num pensamento totalmente hedonista, que torna esse sentimento efêmero. Imergidos em um contexto visual, nos aproximamos daqueles que aparentemente nos interessam e o "eu te amo" é conjugado vulgarmente na boca de qualquer um. Cultua-se, desde os séculos passados, padrões de beleza impostos por diversos fatores, como cultura e formação social, antes divulgados por imponentes esculturas de Vênus e hoje estampados em qualquer meio de comunicação. Esse padrão, conforme a região e sua história, varia da total devoção ao tornozelo cuidadosamente exposto pela vestimenta árabe ao culto à mulher super-siliconizada norte-americana. Seja qual for o país ou cultura, cada padrão estético autoritariamente submete a sociedade a exigências inalcançáveis que anulam a subjetividade do belo e até mesmo do amor. Montesquieu afirmou em "Ensaio Sobre o Gosto" que os encantos se encontravam mais no espírito do que no rosto, porque um belo rosto se mostra logo e não esconde nada, mas o espírito apenas se mostra gradualmente, causando surpresa e criando intensas paixões. Entretanto, a paixão intensa é jogada à total banalização e hoje o amor deixa a desejar para muitas pessoas. Há algumas semanas, no programa Saia Justa, as apresentadoras discutiam um novo tipo de rede social: a rede social da traição. Ela tem o objetivo de facilitar a relação extra-conjugal e no Brasil, segundo o site da Veja², mais de 500.000 usuários (70% homens) utilizam o serviço, que garante que seus usuários jamais deixem rastros. Um dos entrevistados, que participa da rede, afirmou "Busco uma história passageira. Não pretendo me separar, pois tenho um carinho enorme por minha mulher e nosso filho". Até a traição foi banalizada. Para mim a definição de amor se aproxima da música "Não deveria se chamar amor" de Paulinho Moska, ou seja, é reconhecido em sua própria indefinição.
"O AMOR que eu te tenho é um afeto tão novo Que não deveria se chamar AMOR De tão irreconhecível, tão desconhecido Que não deveria se chamar AMOR/ Poderia se chamar NUVEM Pois muda de formato a cada instante Poderia se chamar TEMPO Porque parece um filme a que nunca assisti antes/ Poderia se chamar LABIRINTO Pois sinto que não conseguirei escapulir Poderia se chamar AURORA Porque vejo um novo dia que está por vir/ Poderia se chamar ABISMO Pois é certo que ele não tem fim Poderia se chamar HORIZONTE Que parece linha reta mas sei que não é assim/ Poderia se chamar PRIMEIRO BEIJO Porque não lembro mais do meu passado Poderia se chamar ÚLTIMO ADEUS Que meu antigo futuro foi abandonado/ Poderia se chamar UNIVERSO Porque sei que não o conhecerei por inteiro Poderia se chamar PALAVRA LOUCA Que na verdade quer dizer: aventureiro/ Poderia se chamar SILÊNCIO Porque minha dor é calada e meu desejo é mudo E poderia simplesmente não se chamar Para não significar nada e dar sentido a tudo".
"Não deveria se chamar amor", Paulinho Moska.
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