Não tomo café da manhã. Como apenas o necessário
no almoço. Belisco besteiras durante a tarde. Mas devo confessar que o meu
forte é a janta.
Ao contrário do almoço, na janta é permitido
sentir aquele soninho depois de comer, sem peso na consciência. Afinal, o dia
está no seu fim e, no fim, o nosso destino será necessariamente a boa e velha
cama.
A janta é livre. As senhoras donas de casa
assistem à novela enquanto comem. Os jovens navegam na internet. As famílias
tradicionais jantam a mesa como nos comerciais de margarina. Sem censura, sem
preconceito.
Come-se pau-sa-da-men-te. O tempo não é mais um
inimigo.
Depois da janta, é permitido cochilar no sofá,
assistir ao Jornal da Globo, ler um bom livro e até escrever para o blog Depois
da Janta. Sem pressa, sem neuras, apenas por hobby!
Para não deixar dúvidas: sou neta de italiana e japonês (por parte de mãe), portanto, filha de mestiça com um descendente de português (meu pai), que era neto de baiano e uma mineirinha, uai. Ou seja, corre em minhas veias sangue italiano, japonês, português, africano e por aí vai. História que não difere da de vários brasileiros, que compõe a formação da identidade brasileira. Assim, os imigrantes não poderiam ser outra coisa além de protagonistas nessa formação, pois modificaram o sistema e se tornaram parte integrante da nação, desafiando ideais de como o país deveria ser imaginado e construído. Esses mesmos imigrantes criaram gêneros orais e escritos, em que as diferenças étnicas foram reformuladas para se apropriar da identidade brasileira. Muitos saíram da divisão bipolar preto e branco em busca da "brasileiridade". Apesar da brancura ter sido requisito para a inclusão do imigrante na "raça" brasileira em vários momentos, vide a campanha do "embranquecimento" dos séculos passados, o que significava ser branco mudou entre 1850 e 1950, época em que entraram no país sírios, libaneses e japoneses. Todavia, a brasileiridade nada mais é do que a união, e não mistura, de diferentes povos. Talvez por isso o brasileiro não sinta o mesmo orgulho e identificação com seu país do que o norte- americano, por exemplo. O pensamento eugênico de uma raça pura homogênea (e branca) que se infiltrou no país, inspirou essa política do "embranquecimento" e se concentrou na política oligárquica, que perdura até hoje. Desse modo, histórica e estruturalmente a Nação não se reconhece no Estado. Ou seja, sem identidade e sem representatividade (e até mesmo sem saber o que é a Nação brasileira), o brasileiro segue se indagando como dividir afro-descendentes, de brancos, pardos, índios, amarelos, etc. Quando na verdade as questões são mais profundas, além da cor da pele, envolvendo (poeticamente falando ou zeca baleiramente falando) mais a alma, suas intenções e tentativas de se inserir a algo.
Zeca Baleiro, Alma não tem cor.
Um abraço,
*A Negociação da identidade nacional, Jeff Lesser.
Como em toda família italiana, a macarronada não podia faltar. Domingo havia sido instituído o dia oficial do macarrão e Dona Geny honrava esta data, sempre que podia. Eu e meus primos, adorávamos. Saíamos da mesa lambuzados dos pés à cabeça. Encontrávamos molho de tomate nos cabelos, roupa, nas mãos e até nos dedos dos pés, o que deixava a hora do almoço muito mais divertida. A receita da Nona está na página Da Vovó, no especial Itália:
Com a entrada da pós- modernidade, novas tecnologias e novos meios de comunicar-se, surgiram novas posturas que nada acrescentam, tanto para a sociedade, quanto para os meios de comunicação tradicionais (como a televisão) e inovadores (como a internet). Não interessa a mensagem que é passada, ninguém quer saber nada, ninguém quer pensar a respeito de nada (CONTRERA, 2004). O público quer estar no meio, fazer parte e ser visto. Quer reconhecer o outro somente na medida em que o outro lhe permite ser incluído, confirmando a máxima trazida pelo livro "Jornalismo e Realidade": acesso e sou acessível, logo existo. Aí esta o motivo de programas caracterizados pelo senso geral como sensacionalistas, caso do Brasil Urgente do apresentador Datena, obterem números recordes de audiência. A dona de casa, o trabalhador, o aposentado das classes menos favorecidas não querem apenas ter acesso à informação, querem estar presentes nelas. E nada melhor do que fazê-lo por meio da máxima espetacularização, que nos tira do estado anestésico. Anestésico porque essa mesma pós-modernidade instituiu o império da novidade, onde contraditoriamente nada mais é sentido como novo. Isso resulta na troca da informação nova pelo inusitado. Pronto. A partir daí nos deparamos com inúmeras simulações, imagens explícitas e bonecas sendo jogadas pela janela. Prato cheio para tais programas e, porque não, para o público, que fomenta ser incluído de alguma maneira.
Você tem fome de que?
Um abraço,
*Jornalismo e Realidade: A crise de representação do real e a construção simbólica da realidade, Malena Segura Contrera.