O futuro da humanidade, de uma nação e de um indivíduo é determinado por uma série de acontecimentos que já se foram e acompanhados por um presente feito por objetivos. Esses objetivos diferenciam-se de geração a geração e poucos permanecem ao longo da história. É o caso da "nova era" prometida pela Revolução Francesa*, baseada nos pilares da igualdade, fraternidade e liberdade. A igualdade foi retomada pela Proclamação da República brasileira, por exemplo, há 120 anos, permitindo a soberania do povo; a fraternidade foi revivida pela queda do muro de Berlim, há 20 anos, marcando o fim de dois blocos antagônicos; e a liberdade, por sua pluri-significância, seja metafísica, física ou filosófica, sempre estará presente no homem e na sua história. No entanto, esses mesmos preceitos revolucionários, que permaneceram durante a história, inspiradores de tantas utopias, acabaram reinterpretados e recontextualizados. Mesmo após a instalação da democracia no país, evidencia-se a manipulação de parte da sociedade; apesar do incentivo a fraternidade, multiplica-se o número de movimentos separatistas e intervenções militares; e a liberdade é constantemente cercada por dogmas e padrões sociais inalcançáveis. Ideais originados pelos renascentistas, iluministas e revolucionários se encontram à merce de releituras, que possibilitam sua adaptação a novas necessidades e diferentes pressões. Conceitos históricos podem ser facilmente (e erroneamente) utilizados por governos autoritários, por exemplo, que partem de metas coerentes e idealizadas e resultam na total supressão das vontades da população. Na medida em que conceitos históricos se perdem em uma sociedade imediatista e em tais releituras, ideais que deveriam ser passados ao longo da história são ignorados, anulando-se a relação natural entre passado, presente e futuro, que permite que erros sejam aprendidos e perdas sejam lembradas.
*Meu mais novo affaire, talvez pelo fato de daqui a pouco estar frente a frente a Bastille (texto escrito em 2009).
Um abraço,